sexta-feira, 10 de maio de 2019

“O que depende de mim" vs “Culpa disto e daquilo”


Tínhamos partilhado aqui um episódio genial relatado por Toni Nadal, onde o seu sobrinho (na época treinado por si) pelo hábito de se sentir responsável por tudo o que lhe acontecia nem se apercebeu que estava a jogar com uma raquete partida. Ainda mais genial do que isto é o caminho até se chegar a essa auto-exigência, a esse sentido responsabilidade que nos volta para nós próprios e para aquilo que depende de nós, a essa busca das soluções para os problemas… sem desculpas, mesmo quando elas estão ali prontas a ser usadas e desta forma podermos atirar a responsabilidade para longe e assim seguirmos o nosso caminho sem alterarmos absolutamente nada na nossa trajectória.

Como tudo na vida há instantes ou períodos menos bons, em que não nos conseguimos libertar daquilo que não nos ajuda e focamo-nos demasiado naquilo que não tem solução, naquilo que não muda… quando deveríamos antes tentar encontrar formas de contornar, resolver ou simplesmente ignorar o problema. Viver constantemente neste estado de necessidade de atribuir a culpa a tudo e mais alguma coisa que não “eu”, evitando assumir a responsabilidade que me levaria a tentar solucionar o que está a acontecer, é viver sem aprender.

Falamos muitas vezes do peso da responsabilidade (âmbito desportivo), mas não tem que ser um fardo e por isso, terá que ser sentida, a responsabilidade, como algo saboroso e que nos transporta constantemente para a resolução de problemas focados naquilo que depende de nós, haverá sempre outras variáveis a contribuir para os meus erros, mas ter noção de que outras variáveis existem, não deve implicar a perda do reconhecimento que há coisas que vão sempre depender de mim e é nessas que me devo focar.

Não tenhamos medo de dar responsabilidade aos miúdos, porque é na convivência com ela que terão necessidade de assumir a resolução dos seus problemas sem que a sintam como um fardo, e sim como algo que os faz melhorar quando se focam naquilo que podem fazer para dar a volta. Que se sintam parte do processo percebendo aquilo que deve ser melhorado, só assim irão seguir o seu próprio caminho, algo que naturalmente terá consequências. É por isto que quando são eles a querer ir ao treino e a assumir o sonho de chegar a ser isto ou aquilo, se implicam muito mais naquilo que fazem.

Esta é a grande vantagem de sentir e saber que depende deles e que não adianta usar outras variáveis como desculpa para os seus erros. As consequências, as boas e por vezes as más, vão chegar e como a decisão e a ambição é deles (e não é imposta, nem é uma expectativa dos pais) não precisam que alguém assuma a responsabilidade por eles, eles próprios vão sentir prazer em assumir algo que é deles, precisamente por ter sido uma decisão sua.


a) Conferência de Toni Nadal, antigo treinador de Rafael Nadal: “Innovación y motivación al cambio”. Evento que teve lugar durante o “Oracle Digital Day 2018”.

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