sábado, 25 de maio de 2019

"Pode-se escolher como jogar, mesmo quando se perde?"


Esta é a pergunta que tanto atormenta o futebol, no geral, e aqueles que gostam de ver os seus clubes ganhar, em particular.

Referir que duas semanas após esta conferência Berizzo acabou (“inevitavelmente”) por sair do Athletic de Bilbao, após a sua saída a equipa obteve muitos melhores resultados e escalou na tabela classificativa a ponto de quase alcançar um lugar europeu. Mas como acreditamos que se aprende de toda gente, mesmo de quem perde, aqui fica a nossa reflexão sobre este assunto.

Como se contraria o insucesso? "Sem rumo" é a solução? Qualquer rumo? Sem sentires no fundo da tua alma aquilo que vais ajudar a construir? Será que quando perdes constantemente te podes dar ao luxo de jogar de uma determinada forma, de ter um estilo de jogo e continuar a fazê-lo crescer? (aqui encontram uma das possíveis responstas a esta questão) Nesses momentos parece o que se deve fazer é "ganhar de qualquer maneira", mas o que é isso exactamente? Como é que se treina/joga para se "ganhar duma maneira qualquer"?

Treinar/jogar é sempre no sentido de melhorar e isso implica haver algo que oriente esse processo. Portanto, "qualquer coisa serve" não fará muito sentido. Se depois, no jogo, a vitória acontece de forma fortuita e pouco condizente com o estilo para o qual nos dirigimos (a tal intenção), não deixa de ser festejado, porque todos os treinadores querem ganhar, mas lá estarão no treino seguinte a melhorar a equipa de acordo com os seus princípios de jogo e não é um resultado fortuito que lhes tolda o ver o quão longe a equipa está do ideal. Porque é disso que se trata, de melhorar para ganhar de uma determinada maneira e não duma maneira qualquer (tal como no último post assinalámos usando o exemplo do Vitória SC de Luís Castro).

Eduardo Berizzo, preferiu manter-se no caminho em que acredita, com os seus valores e princípios, do que ser incoerente. Estará errado em tudo porque perde?

O insucesso de alguém dá-nos o atrevimento para interferir e dá uma segurança (insensata) de que a nossa opinião é válida perante o fracasso do outro. Coloca-nos em pé de igualdade com quem perde.

A ideia do treinador (no geral) e as características dos jogadores (no pormenor) dão o rumo a seguir, trair isto é abdicar do sentido que guia a equipa e isto dificilmente levará à vitória. Devemos até ter em conta que cada treinador vê nos mesmos jogadores possibilidades diferentes, condicionados que estão pelas suas experiências passadas e pela forma como foram idealizando o jogo na sua cabeça. A vontade de ganhar tem que estar sempre articulada com a forma de o fazer. Preocupante é quando o fim justifica "qualquer maneira".

"Se não sabes para onde vais, qualquer caminho serve." Lewis Carroll


a) conferência de imprensa pré-jogo de Eduardo Berizzo ao serviço do Athletic de Bilbao durante a época 2018/2019
 
P.S. Fascinam-nos aqueles treinadores que mesmo nas dificuldades e nos maus resultados se mantém fieis aos seus princípios (no jogo e no carácter). Daí esta reflexão. Pena que poucas vezes no futebol se vê um treinador (junto com os jogadores… e todo um clube) ter oportunidade de dar a volta a uma situação complicada, pois ninguém dá tempo para que isso suceda, à mínima dúvida já está tudo à espera da solução "inevitável" (que já é cultural) e que promove a desistência para se recomeçar de novo. Faz-nos pensar no que é verdadeiramente essencial, porque nos maus momentos é a isso que nos devemos agarrar. Num momento de tantos conflitos torna-se ainda mais importante conseguir distinguir o essencial do acessório, estabelecendo prioridades e arranjando soluções, este contexto de dificuldade sem dúvida que tem tanto de aliciante como de difícil. Daí que estes exemplos fossem um grande motivo para aprendermos... todos.

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