quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Bielsa e o Estilo de Jogo


A exemplo do Marcelo Bielsa e inspirado por tudo o que vivi, até através do olhar (na busca de saber mais para aplicar melhor), sempre que me é possível tento aprofundar os temas o mais que consigo, tentando ao mesmo tempo ser claro e por isso hoje acrescento algo mais ao texto anterior.

Entendo que vivemos numa sociedade do "fast reading", "short videos", "easy information", basicamente tudo rápido, curto e fácil. Mas para transmitirmos e chegarmos a um entendimento sobre os princípios fundamentais que orientam o jogo, que tenho tentado reflectir aqui, é necessário aprofundar, caso contrário nem à pele se chega e o que se pretende é uma incorporação profunda, não um toque superficial.

É precisamente por todos os treinadores pretenderem uma incorporação profunda que os estilos não são coisas que se mudem facilmente (importância da formação?!), porque se instalam no corpo para nos guiarem as decisões, primeiro as conscientes e com o tempo (se o houver) alcançar o inconsciente, pois só assim se chega a um grau ideal coerência dentro de determinado estilo mesmo em situações de extrema dificuldade e pressão.

Por isso, falar em ter estilos diferentes como planos alternativos não fará grande sentido. E não se trata só de uma questão de não haver tempo, trata-se de uma questão de coerência e de não gerar conflito na hora de tomar decisões. Além disto, requerendo o jogo uma comunicação (essencialmente não verbal) constante, este conflito de estilos na cabeça e no corpo dos jogadores iria dificultar a antecipação por parte de todos em relação às acções dos outros. Ora se o tempo e o espaço são fundamentais, estaríamos aqui a atrasar a decisão por haver informação contraditória no seio de uma mesma equipa.

O estilo pretende ligar as unidades num todo, portanto tem que ser coerente e facilitador da antecipação, então há que "repeti-lo" e melhorá-lo. A escolha do estilo é uma valorização de princípios em detrimento de outros, porque se acredita que esses serão melhores para criar oportunidades e consequentemente ganhar.

Algo que se confunde bastante e que é cada vez mais uma fonte de discussão entre treinadores é o facto de haver nuances diferentes num mesmo estilo, ou seja soluções diferentes para "o mesmo problema", a tal adaptação de que tanto se fala, mas sempre mantendo o estilo que nos identifica na continuidade e nos permite melhorar por ser repetido constantemente. Portanto, não se trata de ter um estilo alternativo. Todas as soluções estão orientadas pelo mesmo o que acontece é que muitas dessas nuances acabam por ser promovidas pelas diferentes características dos jogadores e por isso é que vai ser cada vez mais importante ter jogadores do mesmo nível, mas com características diferentes no plantel (não significa ter muitos jogadores), porque a "estratégia" passa por aí, sem mudar dar a determinado jogo, em função de alguma necessidade particular, nuances diferentes, pela mudança de um ou outro jogador no 11 titular (por exemplo).

Tal como os jogadores, todos nós temos diferentes características, além disso cada treinador tem o seu estilo (mais parecidos ou completamente opostos), mas é na conversa, no "confronto", na comparação (sem ser a da superioridade), na competição que nos vamos moldando em função das informações que se trocam que vamos aprendendo, mas a base da ideia essa não acreditamos que mude. É como o estilo de jogo.


a) Conferência de imprensa de Marcelo Bielsa retirada do canal de youtube do Leeds United F.C. - https://www.youtube.com/LeedsUnitedOfficial/

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