sábado, 2 de fevereiro de 2019

Rui Faria - Periodização Táctica, Valores e a (eventual) sombra de Mourinho (PARTE I)


 1. Periodização táctica e a desconstrução de ideias estereotipadas, de dogmas. A aceitação duma outra forma de fazer e o entendimento do que se faz:
<<No Inter, eles diziam "na última época víamos o preparador físico em cima da bicicleta e punha os jogadores a correr às voltas nesta pista, porque não fazes o mesmo?" e eu respondi, pela mesma razão que os atletas não jogam futebol para melhorar a sua técnica de corrida", eles começaram a rir-se. Nunca ninguém tinha parado para se questionar.>> Rui Faria

Tanto no jogo como no treino importa pensar no porquê de se fazer o que se faz. Questionarmos o porquê de se fazerem as coisas (questionar porque se quer entender e não questionar para condenar). Depois há a capacidade de convencermos as pessoas na estrutura e os jogadores, isso é outra questão e talvez seja o mais difícil, mas antes disso estará a importância de educar as pessoas para que percebam o porquê. Se é difícil mudar quando são adultos, então fará sentido que na formação se habituem as crianças a pensar no porquê de se fazerem as coisas. Para dar outro exemplo, o conceito de "Abrir o campo", estará isto de tal forma enraizado que já se tornou numa obrigação ou é verdadeiramente entendido o porquê?

2. O respeito pelas crenças, mas sem deixar de fazer o jogador pensar e questionar aquilo que sempre fez.

<<Em Madrid a propósito do trabalho intensivo do C.Ronaldo no ginásio. "Eu disse-lhe 'Com isto vais perder mobilidade e agilidade, e um rapaz como tu vive da velocidade com a bola, tu tens muita habilidade para o drible.' Mas nunca lhe disse para parar, só lhes abria as mentes para uma abordagem diferente.">> Rui Faria

Proibir de fazer quando alguém acredita tanto que o trabalho no ginásio foi o que o tornou no melhor jogador do Mundo, ou noutros casos, impedir alguém de fazer aquilo que durante toda a vida consideraram ser vital para o seu crescimento (como por exemplo rezar, ou um amuleto da sorte, ou umas corridas à volta do campo) seria mais nefasto do que benéfico. Mas ainda assim colocar a nossa semente e fazê-los pensar não custa nada e se do outro lado estiver alguém maduro irá perceber que são formas diferentes e que com certeza os treinadores só querem ajudar.


3. A Mentalidade que faz dum "grande jogador" um "ainda melhor jogador".

<<Eu trabalhei com vários bons profissionais, mas o C.Ronaldo é talvez o melhor no seu desejo de ser melhor a cada dia. Podíamos chegar ao campo de treinos às 04:00 (madrugada) após um voo e ele queria água fria, água quente e pedia a alguém para lhe dar uma massagem. Podia acabar um treino ficar mais uma hora a marcar livres ou a fazer uma acção como vir para dentro e rematar. Enquanto miúdo, com 12 anos, deixar a Madeira para ir para o Sporting, porque tinha um sonho, uma paixão... e ele construiu a sua carreira baseada na paixão e no trabalho árduo. Respeito-o muito.>> Rui Faria

Independentemente de ser determinante a massagem, os livres extra ou não, o que importa perceber é a intenção por detrás disso. Que mentalidade tem alguém que prescinde de tempo com a sua família, que prescinde de tempo de diversão com os seus amigos, para ser melhor a cada dia? Não é falta de amor pela família com certeza, mas é uma paixão muito grande e uma vontade enorme de ser melhor naquilo a que se entregou de alma e coração - ser jogador de Futebol.


a) Entrevista de Rui Faria ao "The Times" - 29/Set/2018.
    Texto de Henry Winter, fotografia de Ben Stevens.

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