sábado, 2 de fevereiro de 2019

Rui Faria - Periodização Táctica, Valores e a (eventual) sombra de Mourinho (PARTE II)

 
“Eu joguei a um nível baixo, mas conseguia ver (soluções). 'Treinámos 3 vezes por semana, então porque é que andamos a perder tanto tempo a correr à volta do campo? Devíamos estar a treinar especificamente para o jogo.’” Rui Faria

“Quando viemos do Porto para o Chelsea (2004), viemos com uma filosofia. José (Mourinho) era o novo homem no futebol que quebrou todas as regras, com épocas fantásticas no Porto, onde ganhou tudo (...)” Rui Faria


1. Quando começas a pensar em Futebol e se não haverá uma forma de melhorar o jogo, o jogador e evitando lesões ao mesmo tempo... Sim isto são preocupações da Periodização Táctica. Esta metodologia entende que para que a "Táctica/Organização/Princípios de jogo" se manifeste no seu auge a cada Jornada é necessário que todas as dimensões do jogo surjam coordenadas (não se trata de me deslocar sem um sentido, desloco-me porque sinto, "entendo" e antecipo) e é esta coordenação que se treina. Porque decidir mal prejudica o jogo, decidir só em função do que eu tenho na cabeça, sem contemplar o resto (colegas/adversários/bola/espaço) prejudica o jogo da equipa, jogar com um corpo cansado, sem agilidade e sem fluidez para um jogo que se quer imprevisível (individual e colectivamente) também não serve, pois prejudica a equipa e o próprio jogador, jogar tendo conflitos com o treinador ou com companheiros prejudica o jogo, ter medo de ter a bola atrás por medo de errar também prejudica o jogo, falta de fineza na hora de tocar a bola, como é óbvio, também prejudica a forma de jogar. O que a Periodização Táctica contempla é tudo isto em simultâneo com a ideia como orientadora daquilo que se faz no treino (Recuperando/Adquirindo).

 
2. Convencer os Jogadores. Com todos os preconceitos que levamos dentro esta é das tarefas mais difíceis, porque cada pessoa é um conjunto de hábitos e de ideias pré-concebidas seja com base em estudos, livros ou informações recolhidas com base nas suas experiências. Acreditamos por vezes que coisas acessórias foram as que nos catapultaram para o nível alto que alcançamos, e ninguém pode negar o poder da crença. "A fé move montanhas" e é verdade, seja ela religiosa ou filosófica ou empírica. Por isso criar hábitos "de raiz" é mais fácil do que desconstruí-los para criar novos conceitos.

<<O Lampard estava habituado a correr à volta do campo durante o treino, até que o Rui Faria o abordar: "O pianista que vai dar um concerto não corre à volta do piano nem faz flexões apoiado nos seus dedos de forma a se preparar.">>
3. "Outros tempos", outras posturas perante quem lidera. Não é problema nenhum que as pessoas demonstrem interesse em saber mais sobre o jogo ou sobre a forma como se treina (bem pelo contrário), o problema hoje em dia é que as pessoas não querem saber do porquê querem é dizer que não é assim e é melhor de outra forma, cada pessoa quer interferir naquilo que se faz. "Questionar" hoje em dia é isto. Por isso o desafio não é explicar às pessoas... o Desafio é levar as pessoas a QUEREREM ENTENDER. Este é o grande reto que os treinadores têm hoje em dia.

"Há uma grande mudança (no Futebol). As pessoas agora questionam quem lidera. Parece que toda a gente sabe tudo, então quando pedes para se fazer determinada coisa, algumas vezes duvidam do que dizes. Antes havia carácteres apaixonado por futebol, com uma enorme vontade de aprender e de fazer bem, jogadores como Drogba, John Terry, Frank Lampard, Ricardo Carvalho, que veio connosco do Porto (...)" Rui Faria



a) Entrevista de Rui Faria ao "The Times" - 29/Set/2018.
    Texto de Henry Winter, fotografia de Ben Stevens.

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