sábado, 2 de fevereiro de 2019

Rui Faria - Periodização Táctica, Valores e a (eventual) sombra de Mourinho (PARTE III)


"Hoje em dia há uma vontade muito grande em mostrar no Instagram ou no Twitter vídeos de jogadores a trabalhar em casa com um Personal Trainer. Isto é a pior coisa que pode acontecer em Alta Competição. Tu tens um programa no clube, gente que gere a tua saúde e de repente vais para casa e dizes a alguém que queres ficar mais forte. OK, ele deixa-te mais forte, mas não tem em consideração o que está a ser feito no clube ou a fadiga do jogador e isso é mau para ti. É uma doença moderna."


Quem mais perde são os jogadores, os treinadores e o clube. O treinador tem todo o interesse em que o jogador melhore e mais ainda em que o jogador não se lesione, portanto parece-me óbvio que a opinião do Rui Faria devem ser levada muito a sério, não só por ter estado muitos anos a Top (com 50/60/70 jogos por época), mas essencialmente por serem treinadores e terem visto os malefícios que isso tem no corpo e no desempenho dos jogadores.

A prioridade terá sempre que ser o treino que tem em vista recuperar os jogadores para que possam estar no pico de forma a cada jogo (de semana a semana ou de 3 em 3 dias). Isto em simultâneo (limitados que estamos pela primeira prioridade) com um desenvolvimento/manutenção das dinâmicas e do crescimento do jogador dentro do jogar da equipa. Ora, se o treinador para além disto tiver que contemplar a fadiga do treino no ginásio, o tipo de contrações estimuladas no treino com o personal trainer e as repercussões que isso teve em termos fisiológicos e que, obviamente, condicionam o que se pode fazer, vamos facilmente perceber que mais limitada estará a disponibilidade dos jogadores para a aquisição das prioridades referidas anteriormente, limitando também a criação de uma forma de jogar que se pretende fluída.

O jogador em “modo máquina” é o paradigma em que vivemos hoje e não temos grande alternativa em relação a esta visão. Muitas vezes, pelo pouco poder que o treinador tem no clube e também porque como referimos na Parte I e II existem crenças que dão bem estar ao jogador que não podem nem devem ser ignoradas, devemos interferir naquilo que realmente consideramos que irá ser determinante e por isso resta-nos, naquilo que poderá não ser essencial, perceber que esse treino “extra” é um dado adquirido e tentar dar alternativas dentro do clube ao jogador ou então estar atento ao que é feito e procurar reduzir o eventual impacto negativo que isso possa ter no seu corpo e no jogo da equipa.



a) Entrevista de Rui Faria ao "The Times" - 29/Set/2018.
    Texto de Henry Winter, fotografia de Ben Stevens.


- Fim -

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