segunda-feira, 11 de março de 2019

Guardiola e o “Treino Físico”


O que é a "melhor forma” de um jogador? O que se quererá dizer ou o que estará por detrás do facto uma equipa “não estar em forma"? Não conseguimos entender isto sem conexão com uma ideia de jogo/uma forma de jogar, entendemos a "forma" como a capacidade das equipas/os jogadores resolverem problemas e de se relacionarem de forma óptima dentro do campo, com todos orientados pelo o mesmo. Agora... se a ideia de jogo for correr mais do que os outros sem um sentido em termos de espaço/timing, de relações e do que fazer para criar problemas no adversário, então aí o treino e a "forma" terão necessariamente que ser entendidos de uma outra maneira.

Só para dar um exemplo:
- queremos uma equipa agressiva após a perda, porque identificamos que há sempre vantagens em recuperar a bola no meio campo ofensivo e atacar outra vez (apanhando assim o adversário naquele momento de se reposicionar para atacar), mas ao mesmo tempo “somos precipitados” com bola nessa zona e nunca damos tempo para que a nossa equipa "ande junta" e por isso estamos “partidos” e nunca temos gente perto da bola (no momento da perda), de forma a não dar tempo ao adversário de se (re)organizar e nos atacar. O problema aqui pode ser físico, porque realmente as distâncias que temos que correr para pressionar a bola são enormes ou então é táctico, porque está relacionado com uma incoerência entre a intenção da equipa e aquilo que faz no campo. Mudando a perspectiva, muda também a forma de resolver o problema e por isso muda o treino e o entendimento que temos do jogo e dos jogadores para o jogar.

Quando existe uma ideia de jogo complexa e que se deve manifestar fluída (sem incoerências), que necessita de ser criada, melhorada e mantida, então o tempo "escasseia" e a prioridade tem que ser "para onde movimentar?" e "quando?". A partir daqui, jogando estamos a adquirir tudo aquilo que necessitamos. Jogando e treinando nos limites, tendo respeito pelos corpos (com cérebro incluído) que temos diante de nós, para que a agilidade corporal e mental não se perca e assim possam estar frescos no dia mais importante - o dia do Jogo onde se deve manifestar o tal "pico de forma".

As palavras podem ser as mesmas, mas diferentes treinadores usam-nas com significados diferentes. "Intensidade", "ritmo", "recuperar a melhor forma", "pico de forma", etc., etc., etc.. A palavra pode ser a mesma, mas muda o conceito consoante a pessoa que a diz e a pessoa que a ouve. No que diz respeito a “picos de forma” o que se pretende, no nosso entender, é que em cada jogo haja um pico de forma da equipa e é por isso que, a cada semana, se prepara a equipa para melhorar/recuperar (em relação ao jogo anterior) só assim se poderão ter disponíveis os melhores jogadores no seu melhor momento em função até do próximo adversário. A questão que se debate é: fragmentar ou não a criação dum estilo, de uma identidade e de nuances estratégicas nas várias dimensões implicadas? Para nós não fará sentido. Para Guardiola também parece que não.



a) Conferência de imprensa de Guardiola ao serviço do Manchester City FC, pós-jogo contra o Chelsea FC, para a Community Shield 2018 (Super Taça de Inglaterra)

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