sexta-feira, 8 de março de 2019

A Decisão “Intuitiva”


A decisão não requer uma explicação prévia, por vezes nem sequer existe uma explicação “a posteriori” por parte de quem a tomou, o que é certo é que há jogadores que decidem melhor do que outros, mais vezes e aparentemente sem tempo.

"Decidir" requer um entendimento, que pode ser consciente ou não, sabendo ou não explicá-lo, o que é certo é que tem que existir, como uma ultra-sensibilidade para tudo aquilo que facilita o “jogar o jogo”. Tem que haver um “conhecimento” de quais são as qualidades e até os “defeitos” de quem joga ao meu lado, da circunstância, para a partir daí antecipar, perceber as prioridades e decidir. A questão é que isto está tudo a acontecer a uma velocidade enorme no jogo e não há tempo/espaço para ponderar os prós e os contras. É aqui que entram as emoções, são elas que nos “empurram” para determinada decisão. O jogador olha e vê opções (nem todos conseguem ver tudo e rápido) e de tudo aquilo que viu houve algo que lhe provocou uma emoção mais agradável do que o resto e então é esse o caminho que escolhe - muitas vezes o pânico de errar bloqueia opções ou até a sensibilidade para a limitações da concretização.

Não gosto muito do termo "tomada de decisão", porque, da forma como o conceito tem sido tratado ao longo do tempo, dá a ideia que o jogador tem imenso tempo para ponderar os prós e os contras de cada opção. Há quem teste a tomada de decisão com o jogador sentado em frente a um computador a ver uma jogada que pára a determinado momento, aí dão várias opções e o jogador escolhe uma. Previamente, quem realiza o teste estabelece uma hierarquia de qualidade das várias opções, e da comparação dessa hierarquia com a opção selecionada pela pessoa testada sai um resultado acerca da sua “tomada de decisão”.

Isto tem vários problemas associados:

1º - o tempo – no jogo não há esse tempo todo;
2º - as opções (de passe, por ex.) são condicionadas pelo meu conhecimento/entrosamento dos/com os meus colegas de equipa, entre outras coisas. No frame isola-se e tudo fica descontextualizado;
3º - por vezes, racionalizar todos os prós e contras prejudica a decisão (para além de a atrasar), mas no testes isto não é necessariamente uma desvantagem;
4º - (relacionado com o ponto anterior) - há jogadores que quanto mais pensam mais bloqueados ficam (não lhes sai nada).

Trata-se de treinar e repetir contextos/problemas, onde o treinador orienta para princípios e/ou soluções colectivas, e dentro desses princípios encontrar as melhores decisões para a equipa e para cada um. Essa é a única forma de "elevar" as decisões para o nível da "intuição", de forma a poupar tempo no jogo e a decidir bem em função da circunstância. Circunstâncias essas que incluem uma especificidade tão grande e tantas coisas, que se torna muito difícil de avaliar e de treinar a decisão e a resolução de problemas sem ser a jogar. Há o vídeo como forma de procurar aprender com o que se fez, mas em demasia pode bloquear as emoções (pela extrema racionalização) e retirar a espontaneidade que só se consegue a decidir muitas e sem tempo para “pensar”. Equilíbrio é importante entre o racionalizar e o sentir.

Mais do que “tomada”, a decisão é sentida, e tem muito de emocional à mistura, especialmente num ambiente onde o tempo para racionalizar é escasso.



a) extracto do programa: “La pasión según Sacheri” com Pepe Sanchez - 29 de julho de 2018

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