quarta-feira, 6 de março de 2019

Bernardo Silva – Quando a inteligência/mentalidade transformam tudo numa vantagem

A propósito do último “post” (aqui) onde Guardiola e Cruyff falam das necessidades e das vantagens que tem um jogador com um “físico mais frágil”, o Bernardo já proporcionou ao longo desta época inúmeros jogos que ilustram bem aquilo que na realidade significa o poder que a necessidade, quando associada à inteligência, tem de transformar uma aparente debilidade numa grande vantagem. Guardiola explica e Bernardo executa.


Esta capacidade do Bernardo só é possível de adquirir graças à mentalidade extraordinária que tem, de ser resiliente perante as adversidades e em contextos/experiências onde grande parte de nós se deixaria cair na frustração e na desculpa fácil. Há imensos jogadores que acabam por conseguir encontrar soluções para o “contacto físico”, mas julgam que o jogo está resolvido pela resolução dessa questão, mas o jogo é muito mais para além disso e é aqui que o Bernardo sobressai de todos os que tiveram que “provar que o fisíco não é o essencial” (claro que isto é desgastante, ver a descrença à nossa volta, mas é preciso ver para lá dela), é que ele vai mais além e quer aprender mais, não só a ultrapassar isso num contexto difícil como a Premier League, como a entender mais do jogo para lhe poder acrescentar dinâmica onde e em função do que for necessário.

Teve sucesso também no Mónaco com um treinador completamente diferente do Guardiola, em termos de estilo de jogo, portanto não depende só do treinador, mas também da mentalidade do jogador, em querer aprender de qualquer contexto, mesmo quando sentou no banco ou na bancada, durante anos na formação do Benfica. Se foi justo ou injusto não o posso dizer, talvez tenha sido por perder bolas nos duelos quando se dava ao contacto, abalroado nos treinos constantemente sem conseguir dar seguimento a nenhuma jogada, não sei mesmo, o que sei é que tudo o que viveu lhe serviu para ser melhor hoje. Felizmente não se agarrou à frustração de não jogar, e na época passada voltou a não fazê-lo, como o Guardiola disse: “jogou, mas não muitas vezes como titular.” (principalmente na primeira metade da época).



A expressão facial do Bernardo após o golo, onde ele teve que se implicar todo no contacto com o defesa do Fulham, para aproveitar (no momento certo) o desequilíbrio do adversário e assim ganhar espaço extra para ficar de frente e poder servir o Aguero no centro da área, diz muito... Isto exige sacrifício/treino diário e muito fracasso. Para além da inteligência e daquilo a que vulgarmente chamamos “talento” é necessário o TALENTO TOTAL (ver post).

Não se trata de inverter o preconceito para algo deste género: “os grandes não servem, os pequeninos é que são bons”. O que se deve procurar é acabar com o preconceito que existe, aquele do talento das medidas físicas (ou até o das medidas técnicas) e medir o talento pelo jogo todo e pela mentalidade que alimenta esse mesmo talento, que é o verdadeiro potencial.

O Bernardo não está mais forte (no sentido físico do termo), o que ele conseguiu foi perceber como usar o corpo e as qualidades que tem no momento certo para tirar vantagem do desequilíbrio/instabilidade corporal do adversário. Como poderão ver no vídeo, é humano e nem sempre consegue ter a eficácia que quer.


O essencial é que cada jogador se conheça e perceba como pode solucionar os problemas. O treino deve ser isso, uma descoberta do jogo, da equipa, dos colegas e do seu próprio corpo para resolver os problemas que o jogo coloca. Depois, é treinar, perceber que uns precisam de mais tempo para chegar a essa capacidade intuitiva de, por exemplo, perceber que o adversário está apenas com um pé no chão e por isso é o momento ideal para eu ter a minha hipótese de o desequilibrar com o meu corpo “frágil”. Milhares de pormenores que não se ensinam, mas para os quais se pode abrir a atenção, para que eles se possam orientar para a solução. Logo vem a realidade dura da queda, do ser abalroado muitas e muitas vezes e de ficar no banco, porque ainda não consegue ter eficácia.


Resta, entender a dificuldade como uma vantagem e lutar cada dia por se ser melhor. Nunca vi outra forma de um jogador/uma pessoa se transcender, é isto e acreditar que é possível.



a) conferência de imprensa de Pep Guardiola pós-jogo - Manchester City vs Fulham (Premier League 2018/2019)

b) jogo Manchester City vs Fulham (Premier League 2018/2019)

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