quarta-feira, 24 de abril de 2019

Sai: “o Todo” Entra: “a Parte” - o caminho para a Paralisação


“Os pormenores fazem a diferença”, a verdade desta frase fez-nos ignorar a importância de tudo o que permite aos pormenores fazerem a diferença. É que fazem tanto mais a diferença quanto maior for a ligação entre eles e os princípios que sustentam o jogo da equipa. Ou seja, qualquer detalhe só faz sentido quando desenvolvido/sustentado numa base cheia de princípios colectivos que se prolonguem no tempo. A essência estará acima de tudo na coerência entre os tais pormenores e os pilares que os orientam.

O essencial não pode deixar de o ser, porque quando o acessório passa a ser o fundamental e o que é fundamental passa a ser relegado para um segundo plano, é aí que se perde aquilo que orienta as equipas. É verdade que tudo se pode melhorar, mas é importante perceber o que é prioritário. Além disso, vivemos numa época em que o tempo é valiosíssimo, pela “escassez” do mesmo, como se o crescer da informação aumentasse a nossa ânsia de fazer tudo. Das duas uma ou fazemos tudo à pressa ou não temos tempo para fazer nada. É aqui que entra o saber hierarquizar/priorizar, algo que nos dias que correm talvez seja das coisas que mais contribuem para o desenvolvimento da equipa e dos jogadores. Por isso mesmo nem tudo tem a mesma percentagem de importância e nem tudo deve ser tratado como se tivesse o mesmo valor.

Sobram exemplos desta inversão entre essencial-acessório. Não raras vezes vemos os princípios, que sustentam a forma de jogar e a dinâmica, serem colocados de lado, talvez por se pensar “isto já está consolidado” mas a verdade é que o “segredo” está na “repetição sistemática”. A recuperação deve assumir o papel fundamental e ainda mais nos períodos onde “não há tempo para treinar”, pelo acumular de jogos de 3 em 3 dias, aí ainda mais importante é a distinção entre o essencial e o acessório, dar exclusividade ao treino de detalhes menos relacionados e até opostos àquilo que é a forma de jogar da nossa equipa pode ser fatal, especialmente numa altura em que o dia do jogo é talvez o único dia verdadeiramente aquisitivo (numa dinâmica semanal de jogo 3 em 3 dias). O pormenor tem que ter sempre uma relação com o “pormaior”.

Percebe-se, à volta deste tema, uma necessidade que toda a gente tem em querer acrescentar o seu “grãozinho de areia” e fazer desses “grãzinhos” os protagonistas do processo, por vezes com o único propósito de reclamar para si o mérito quando chega a vitória. Tratam de pôr dentro do "saco” (equipa/jogador) aquilo que na área/perspectiva de cada um é importante. Entretanto encheu-se o “saco” de “tralhas”, e são “tralhas”, porque simplesmente não há nada que as ligue (ou mesmo que houvesse, investiu-se tanto tempo nisso que se descurou o que lhe dava sentido). Fica a equipa e o jogador cheio de pormenores sem uma base que os ligue e lhes dê sentido. Podem ser pormenores estratégicos, técnicos, físicos, etc. a questão a ser levantada é a pertinência de se incluir determinada coisa no treino em detrimento de outra? Que ligação tem isso com tudo o que temos feito? Que repercussões terá, na continuidade, o treinar pormenores incoerentes com a nossa cultura/identidade colectiva (hábitos/dinâmicas) e individual (corpo do jogador por exemplo)? É aqui que ganha extrema importância o hierarquizar/o priorizar, pensar naquilo que se deve incluir no treino tendo em conta o que nos tem orientado e perceber se incluir isto traz mais benefício ou prejuízo no médio prazo. Incoerência atrás de incoerência vai originar uma perda de fluidez na dinâmica da equipa, pela perda da sustentabilidade, pode não ser na semana seguinte porque uma incoerência até pode ser irrelevante, mas a bola de neve, se alimentada, irá continuar a crescer. Os princípios requerem manutenção semanal (desde que se respeite a recuperação que permite a aquisição dos mesmos), porque no fundo são aquilo que conecta os jogadores e a faz com que a equipa tenha vida própria.


A dinâmica da equipa está longe de ser uma redutora soma de pormenores, são princípios e sub-princípios de interacção que favorecem o aparecimento posterior dos pormenores coerentes... não temos dúvidas nenhumas que os detalhes vão acrescentar qualidade à dinâmica da equipa e que muita gente poderá ajudar a que a "parte" flua melhor no “todo” (assim se orientem por ele). Mas não deixa de ser um pormenor mesmo quando é aquilo que no final salta mais à vista por ser mais fácil de diferenciar. Nunca a parte existirá sem o todo, nem o todo sem as partes. Portanto que não se substitua um pelo outro. Os princípios sustentam-nos e os pormenores enriquecem-nos, assim haja coerência entre uns e outros.

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