quinta-feira, 16 de maio de 2019

Anti-(Cultura de anti-superação)


Se há coisa que procuro diariamente são exemplos de superação, de gente que transcende a dificuldade e os maus momentos, gente que se agarra ao que de bom ainda existe para solucionar e atenuar os defeitos que com o tempo aparecem, mas aquilo que se vê é gente que quer apagar o passado e o presente esquecendo as perspectivas que se tinham para o futuro.

Inspiram-me pessoas, casais, famílias, grupos, equipas, povos, gente que na dificuldade se une para superar as adversidades para seguir um caminho com esperança num futuro melhor, ainda que no caso do futebol isso possa não ser o suficiente para se alcançar os objectivos. Até que ponto damos verdadeira oportunidade para que mais casos destes surjam? Que espaço há para “cair e levantar com mais força”?

Todos sonhamos com uma vida cheia de momentos desses, momentos onde toda a gente junta encontra soluções para poder resolver grande parte dos problemas que nos empurram para baixo. Mas nem sempre a realidade nos dá estes exemplos, o que é acontece tantas vezes é que quando surje uma dificuldade, uma crise, uma dúvida, um momento em que parece não haver um rumo, depois duma desilusão… a coisa resolve-se com o afastamento de quem é responsável. Não se trata de defender treinadores, trata-se de preferir ver gente que se une na dificuldade, do que ver afastar-se gente na "tempestade que vem após a bonança" (nem era bom que a ordem das coisas fosse linear).

Guardiola esteve a 7 pontos do Liverpool e certamente não se vivia tranquilamente em Manchester (city), certamente houve quem duvidasse, mas todos se uniram agarrando-se à pequena chama da esperança. Isto não se consegue só às custas da inspiração de um grande líder, é necessário um determinado tipo de gente que assuma a liderança de si próprio e de quem os rodeia, todos têm que ser responsáveis por inspirar/cativar. O líder também busca, muitas vezes, essa inspiração nos jogadores que lhe mostram que estão ali para dar a volta por cima a cada dia.

Sempre que me vem à cabeça a palavra “superação” recordo-me de Vítor Pereira e das suas épocas no FCPorto. Um Homem que teve que superar o “catálogo” que tinha de adjunto para poder criar uma cultura, uma equipa dominadora e que sempre tentou solucionar o jogo pela busca da bola, com garra sim, mas com muito jogo… e conseguiu-o num clima de dúvida diária.

Jorge Jesus, que perdeu tudo pelo SLBenfica nas duas últimas semanas da época 2012/2013, é outro grande exemplo. Tinha uma equipa destruída naquela final da Taça, com jogadores em conflito e dessa queda frustrante levantou-se gente capaz de criar uma equipa feliz a jogar.

Isto é impossível sem os tais jogadores (e toda a gente do clube) que “inspirem” o treinador, jogadores que se deixam guiar e que ao mesmo tempo guiam os companheiros que se mostram com mais dúvidas. O Líder tenta cativar para as suas ideias, mas sozinho não é nada, precisa que todos queiram e acreditem que é possível criar novos laços quando parece só haver um vazio à nossa frente.

Não nos habituemos a este clima de anti-superação que ganha vida na “chicotada-psicológica”, tentemos juntos. Não esperemos o afastamento de uns e a chegada de outros para tentar. Tentemos todos os dias para que consigamos continuar unidos e seguir com todos até ao fim. Este é o meu sonho: que não se quebrem os laços que outrora nos fizeram sonhar por um momento de dúvida.

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