quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O Talento vai muito além da banalização de “Talento” (caso Manu Ginobili)


A banalização da palavra talento desvirtuou o conceito. Sabem quando de tanto utilizarmos determinada palavra erradamente acabamos por lhe perder/mudar o significado, foi isso que aconteceu ao “talento”. Ou isso ou então andamos a dar valor a coisas que por si só não são suficientes para serem tão valorizadas como são. Vou tentar dar uma ideia daquilo que para mim é o, chamemos-lhe, TALENTO TOTAL.

Quando se fala em talento referimo-nos sempre a algo que pode muito bem ser efémero, por se passar uma ideia de facilidade para o alcançar o estado a que se chegou e que dá uma autoridade eterna. Talento na boca do Mundo é sempre apenas parte daquilo que é necessário para se ser talentoso, é sempre o superficial e resume-se ao visível - o produto “final”. Isto para mim é o maior erro e é o que mais nos afasta da formação do/para o TALENTO TOTAL. Geralmente num jogador de futebol a análise do talento é circunscrita ao que faz com bola, porque só queremos fazer o que gostamos e geralmente quem só faz o que gosta perde qualquer hipótese de manter o talento, porque fazer só o que se gosta impede o talento de aparecer e impede até que apareça aquilo que gostamos de fazer. O segredo, como diz Toni Nadal, não é fazer só o que gostamos, mas sim gostar do que fazemos. E por isso não podemos desligar aquilo que fazemos, da mentalidade que permite manter e alcançar a cada dia "níveis maiores de talento". Sem tudo isto, talento seria algo passageiro, quando na verdade deveria ser continuidade e consistência, para que a resolução de problemas no jogo (também a nível emocional) fosse uma constante e deveria conseguir sobressair mesmo na adversidade sem cair em desculpas.

No fundo, defendo que o talento é muito mais do que aquilo que normalmente se diz. A mentalidade que demonstramos no jogo e no treino é talento e é duma importância enorme. Quem é que já ouviu o seguinte: "Eu se quisesse era melhor do que o Messi ou do que o Ronaldo. Tinha pés mas não tinha cabeça."? O que não tinha era capacidade para aproveitar o tal talento que se banalizou, e que não é mais do que uma mera habilidade sem potencial para ser mantida ou melhorada. Não tinha o talento necessário para se deixar treinar e desenvolver a cada dia, não tinha este talento de sacrificar tantas outras coisas em prol de melhorar a cada treino. Portanto é óbvio que o talento também está na mentalidade, uma grande ajuda para se melhorar por é ela que vai permitir ser talentoso no jogo, na época, na carreira, na vida.

O grande exemplo de Manu Ginobili - sendo ou não adepto de basquete, estes exemplos fascinam-me sempre, têm que ser estes os modelos a seguir, para mim serão sempre. Por tudo, no fundo pela “TOTALIDADE do seu TALENTO”.

Imaginem que aquele que é reconhecido como o que melhor joga, aquele que é o mais respeitado por todo o grupo, o líder natural, é também o que melhor treina e aquele que mais se deixa guiar pelo treinador no sentido de perceber o que se pretende dele e da equipa. É que não se trata de valorizar o treinador, esta mentalidade de deixar-se guiar está muito além dos benefícios para o treinador, é um benefício colectivo que o "líder natural" se deixe treinar sempre nos limites.

Isto é para mim o TALENTO TOTAL, tudo aquilo que ajuda a resolver da melhor forma possível cada situação.


a) extracto do programa: “La pasión según Sacheri” con Pepe Sanchez - 29 de julho de 2018

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