sexta-feira, 29 de março de 2019

A renovação/contratação não pode depender de uma boa exibição


Guardiola sobre o que justifica a extensão do contrato dos jogadores.

Há dois dias reflectimos aqui sobre o que pesa na hora de recrutar "miúdos" para um clube, através das palavras de Pat Fitzgeral (aqui).

Hoje o tema é a renovação de contrato de Leroy Sané e o que será importante na hora de abordar o jogador para o fazer. Não vamos esconder que tudo isto é visto como um grande negócio e que não renovar com um jogador pode implicar perda de dinheiro, devido ao risco que se corre, a cada ano que passa, com aproximação do final do contracto. A mesma lógica (clubes que não querem arriscar perder bons negócios) tem levado também a que se paguem valores exorbitantes por jogadores, baseado naquilo que é o seu potencial (e todo o risco que isto acarreta). Esta inflação surge muito por culpa de negócios como o do Cristiano Ronaldo do Sporting para o Man. United, hoje em dia ninguém quer desbaratar. Ao mesmo tempo, os clubes grandes cada vez menos querem arriscar perder oportunidades de segurar determinado jogador da formação e acabamos por ter empresários e até os próprios jogadores com poder para interferir na gestão dos clubes e gerar-se um clima de de quase ameaça do género: “se vocês não quiserem temos ali aquele rival que está disposto a chegar a esses valores” - é o mercado. Clubes grandes não entram neste tipo de cedências, ou não deviam. Deveriam sim, tentar antecipar-se a toda a gente de forma a contratar/renovar/assinar primeiro contracto pelo valor justo em função de um potencial, que não é algo concreto tendo em conta a complexidade do desenvolvimento e formação dos jogadores. A pressa dos jogadores quererem aparecer ou as tremendas injustiças como a de jogadores com grande potencial que não se lhes é dada uma oportunidade ou de bons jogadores sem melhoria das suas condições salariais, levou a este clima em que tantas vezes as renovações/aposta (ou não) na formação são autênticas guerras. É como que se os valores humanos estivessem a ser determinados pelos valores financeiros.

Avançando para aquilo que é fundamental na perspectiva do treinador, parece haver outras coisas essenciais que devem orientar a decisão de prolongar a estadia de um jogador no clube e de lhe melhorar as condições salariais. E não é que Guardiola, como tantos outros treinadores, é da opinião que é tão essencial a qualidade como o carácter (o "ser humano"/a pessoa “por detrás” do jogador, não não são máquinas e antes de serem jogadores são mesmo pessoas).

Como é óbvio, não estranhamos nada que o Guardiola e outros se refiram tantas e tantas vezes ao facto de ser essencial tanto a qualidade para jogar como a personalidade/mentalidade/carácter de um jogador, que é uma pessoa. Não se pode nem se deve dissociar as duas coisas. É precisamente um dos motivos pelos quais criamos este espaço de partilha, para ligarmos estas duas faces da mesma moeda e que nos parecem ser tantas vezes esquecidas. Claramente quem está dentro do processo e convive com os jogadores diariamente sabe que a qualidade e o potencial podem ser comprometidos sem um bom lado humano. E ser um "bom ser humano" sem qualidade no jogo também não serve de nada, para uma equipa de futebol que se propõe a jogar um tipo de jogo complexo e a ganhar. Aliás o potencial do jogador não é nada sem um contexto e por isso o contexto aumenta ou diminui o potencial do jogador, até o domínio da língua pode ter um papel fundamental na evolução do jogador (lá está isto não é jogo, mas pode ajudar a melhorar a qualidade do jogo), referimos a língua como poderíamos referir outros aspectos culturais do país ou os princípios de jogo da equipa, etc..

A sociedade e o futebol, sendo um fenómeno nela inserido, necessitam muito da ajuda dos pais para criar/descobrir as paixões e também para formar "bons seres humanos" (ser bom ser humano, como aqui tentamos retratar não é sinónimo de ser bom para os outros, digamos também é, mas há muito mais para além disso).

Todas estas questões relacionadas com a atitude influenciam as qualidades e a qualidade de ser futebolista (ou outra coisa). Não temos dúvida absolutamente nenhuma disso, nenhuma.


a) Conferência de imprensa (pré-jogo) de Guardiola ao serviço do Manchester City FC - Premier League 2018/2019

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