segunda-feira, 25 de março de 2019

Afinal, quanto tempo é necessário para construir uma EQUIPA?


Guardiola fala sobre o que mais importa e sobre o tempo que não existe para se construir precisamente isso que mais importa, que é criar uma forma de jogar de acordo com a ideia do treinador e percebendo o que cada jogador pode dar e como poderá ser útil, dando vida à ideia e ao jogo. Costinha confirma a necessidade de tempo para que se mudem mentalidades e se mudem hábitos.

Várias coisas para reflectir sobre este tema levantado por Guardiola e Costinha, por exemplo:

- a necessidade de se formar desde cedo para que ter a bola e “manejá-la” desde trás não seja um desconforto, isto para que a passagem de um sector para o outro por dentro ou por fora não seja uma forma arriscada de deixar para trás as várias linhas do adversário. Formar para um jogo posicional que permita que quem recebe a bola o possa fazer de forma ameaçadora para a estrutura adversária e sem perda de segurança. Pode-se formar também para combater um jogo mais directo e onde se pretende ser agressivo com a intenção de ganhar as segundas bolas jogando atacando rápido a baliza a partir daí. Formar para que os jogadores "mais débeis", no choque, consigam jogar e ser úteis numa equipa que se propõe contrariar esse tipo de jogo, levando-o mais vezes para o jogo que lhes convém.

Porquê esta necessidade? Para que seja um hábito e não seja preciso aquele tempo todo de adaptação de que o Costinha fala, e que passa por mudar hábitos tendo que convencer ou passar por um processo de algum desconforto em campo, para que, passado esse tempo, o jogador se deixe guiar e aprenda a sentir-se confortável com os novos hábitos que se pretendem criar na equipa, neste caso com o Costinha como treinador.

- "ou ganhas ou despedem-te" Pep Guardiola. Quem é que não sabe disto? Até na formação... ganhar é o mais importante na hora de avaliar a qualidade do treinador. A revolta do Guardiola, e de treinadores que estão no futebol há muito tempo, parece ter sido silenciada pela resignação perante esta mentalidade e pela necessidade de procurar outras coisas que sintam ser capazes de controlar melhor, e que tem a ver com a criação de uma forma de jogar, baseada no seu entendimento/sentimento, mas procurando ajustar a algumas características que os jogadores têm e que são aquilo que dá fluidez e imprevisibilidade ao "seu" jogo.

Seria bom ter tempo? Claro que sim, porque mesmo sem se ganhar um título saberíamos que, se a cultura fosse de ver as coisas a longo prazo, haveria muito menos crises na derrota (de pais, de dirigentes, de adeptos...) e isso permitiria que as pessoas se focassem no crescimento da equipa e dos jogadores no sentido de melhorarem a forma como se joga. Todos se sentiriam responsáveis por isso e não só o treinador. Aliás, treinador e jogadores, que ninguém retire a grande importância/responsabilidade dos jogadores no que toca ao jogo que a equipa joga, nem no mérito nem no fracasso. Tony Kroos disse, aquando da saída de Lopetegui do Real Madrid que “é um sinal de fracasso para os jogadores quando o treinador é despedido”. São interpretações e formas de estar no futebol, mas sem dúvida que toda a gente se enriqueceria numa cultura onde há tempo para se construir uma EQUIPA e onde todos sentem a responsabilidade das melhorias e dos fracassos.

Sabendo que não há tempo, o treinador vive num dilema. Para nós, tendo em conta que perder é sempre uma hipótese, o melhor é agarrarmo-nos ao jogo e ao crescimento dos jogadores.


a) entrevista de Guardiola à ESPN Brasil em 2017
b) Conferência de Costinha, enquanto treinador do Nacional – pré-jogo, Primeira Liga Portuguesa 2018/2019 (CDNacionalTV canal do youtube)

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