quinta-feira, 21 de março de 2019

Respeitar o presente da equipa/dos jogadores com o futuro no horizonte


Já muito aqui se falou da necessidade de uma Ideia de Jogo por parte do treinador que, resumidamente, é um conjunto de princípios (orientadores) de jogo, absolutamente fundamentais para sustentar e dar um sentido a todas as dinâmicas, todas as decisões e toda a expressividade individual dos jogadores. São no fundo os pilares com os quais o treinador acredita estar mais perto de controlar, dominar e ganhar o jogo.

O treino tem sempre como propósito construir uma EQUIPA, no sentido de gerar interacções cada vez mais coerentes, fluídas e que dêem espaço para que cada jogador se possa expressar em campo de acordo com o seu potencial. Mesmo que não houvesse treinador a equipa iria sempre crescer qualquer coisa com o facto de jogar junta, o entrosamento iria ser cada vez maior e iria gerar-se ali uma auto-organização e uma cultura própria. Por exemplo, se o Guarda-redes (independentemente do potencial para fazer diferente) nunca tivesse tido referências de sair curto em segurança o mais provável é que não se sentisse confortável em fazê-lo mesmo com algum espaço para e por isso a saída iria sempre ser longa a não ser que os Centrais insistissem com ele ou o contrário ele querer e os DCs. ou Laterais insistirem para meter no Ponta, mas e se o Ponta não conseguisse sequer promover a segunda bola?

Talvez tenha sido daqui que se tenha pensado: "E se nomeássemos alguém para orientar isto? Para dar um sentido comum a todos?" Mas, como é óbvio, a necessidade de haver treinador não surgiu com a intenção de subtrair potencial aos jogadores, nenhum treinador que entenda o jogo quererá que isso aconteça, por mais que não seja, porque sabe que isso o afastará de triunfar. O que preenche verdadeiramente muitos treinadores é chegar a todos os jogadores do plantel e ajudá-los a crescer e a perceber/senitr que a sua evolução individual depende muito dos companheiros que os rodeiam – isto tem que ver com os tais princípios que promovem a interacção de determinada forma específica.

Queremos com isto chegar ao ponto em que o treinador que fecha todas a possibilidades do jogo na sua ideia, não está a respeitar o conceito de "Princípios". "Se são princípios é porque não são fins" (Professor Vítor Frade) e não sendo "fins" não são fechados, simplesmente procuram orientar e este orientar não é limitar, bem pelo contrário, é ampliar as possibilidades de cada jogador poder antecipar aquilo que mais ou menos poderá acontecer, pois há referenciais que permitem isso e, num jogo onde os jogadores têm que decidir em fracções de segundo, ter esta ajuda (sim estamos para ajudar) é claramente uma mais valia e eles próprios sentem isso.

Precisamente porque o treinador não limita as possibilidades do jogar da equipa aos grandes princípios, é que Guardiola dá imenso espaço para também ele se “deixar guiar” pelos seus jogadores, pelas suas qualidades e pela sua qualidade, pelo que vai aferindo no dia-a-dia. Assim, tendo Busquets, Xavi, Iniesta e Fabregas decidiu que poderia muito bem jogar num 3-4-3 de forma o poder tê-los a todos em campo e assim estar mais perto de controlar o jogo tal como o entende e como a sua equipa estava preparada para o jogar, porque isto influencia muito.

Aquilo que orienta as decisões/escolhas do treinador, tanto em termos de exercícios, como do que irá ser a semana em termos aquisitivos/recuperação e até a convocatória, o onze titular e as próprias substituições é: a sua concepção de jogo que dá uma lógica a longo prazo ao processo, é o potencial dos jogadores para crescerem nesse mesmo processo, é o adversário, é aquilo em que a partida se tornou e a necessidade de dar continuidade ou de recuperar o controlo, etc., mas também é aquilo que a equipa faz no presente e que lhe garante a possibilidade ou não de controlar/dominar o jogo, ou seja, “nós queremos caminhar neste sentido e estamos a tentar evoluir os jogadores desta forma para lhes dar mais condições para que esta identidade seja cada vez mais coerente e sem ‘dúvidas’, mas tendo em conta o que somos enquanto equipa HOJE, com que jogadores (não esquecendo os seus estados de espírito) estaremos mais perto de o fazer neste momento?”

Consideramos ser esta uma das questões mais difíceis de responder, porque se trata de avaliar constantemente e de decidir em função dos jogadores e daquilo que juntos (jogadores e treinador) fomos capazes de construir até ao “aqui e agora”, porque isso é o que somos (não somos no passado nem o futuro, somos o que somos) Conciliar isto com a importância de seguirmos o caminho que nos garanta melhorar... é esta a arte, a de misturar isto tudo e conseguir, a cada passo que a equipa vai dando (no sentido de construir uma identidade e um estilo “à prova de bala”), perceber aquilo que é necessário, em função do momento em que nos encontramos, para que os jogadores se sintam bem e consigam controlar e dominar da melhor forma possível o jogo (o próximo).

Esta sensibilidade foi a que fez o Guardiola avançar para o 3-4-3 percebendo que havia condições para o fazer sem perde de fluidez em todos os momentos e com ganhos de criatividade e de entrosamento entre todos. Noutros casos é o jogador de determinadas características e que ainda não tem o estatuto necessário e por isso mesmo, por causa desta mesma questão, o treinador sente que não será o momento, não há o mínimo de sustentabilidade do jogo da equipa para que ele possa ir e mesmo que a coisa não seja perfeita a equipa tem bases para suportar as suas debilidades.


a) programa da Sky Sports (vídeo retirado do canal do youtube “Sky Sports Football) emitido antes do início da época 2018/2019 (Agosto de 2018), entitulado “Premier League Launch 2018-2019”

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