quarta-feira, 3 de abril de 2019

Carlos Carvalhal: "O jogador não é uma máquina individual."


Carlos Carvalhal a falar de algo que está em crescendo no futebol actual: a contratação de um PT por parte do jogador.

No seguimento de posts anteriores:



Rui Faria disse algo que em tudo se relaciona com as palavras de Carlos Carvalhal, numa entrevista para o “The Times”, a 29 de Setembro de 2018:

"Hoje em dia há uma vontade muito grande em mostrar no Instagram ou no Twitter vídeos de jogadores a trabalhar em casa com um Personal Trainer. Isto é a pior coisa que pode acontecer em Alta Competição. Tu tens um programa no clube, gente que gere a tua saúde e de repente vais para casa e dizes a alguém que queres ficar mais forte. OK, ele deixa-te mais forte, mas não tem em consideração o que está a ser feito no clube ou a fadiga do jogador e isso é mau para ti. É uma doença moderna."

Para além deste “treino” não estar em sintonia com aquilo que o treinador faz no Treino, com a ideia de jogo, com a agilidade necessária para jogar o jogo (tudo isto é específico), etc., há ainda um acréscimo grande no risco de lesão, algo que prejudica gravemente o jogador e a equipa. E isto acontece precisamente por ser um trabalho desligado daquilo que se passa no Treino, não respeitando a lógica metodológica do treinador.

Muitas vezes já se tenta amenizar/controlar aquilo que os jogadores fazem (fora do treino), dando-lhes a possibilidade de fazer algo dentro do clube, estando vigiados/orientados por gente conhecedora dos princípios de esforço/recuperação pelos quais se rege a metodologia do treino. Porque os jogadores têm os seus hábitos e crenças que têm que ser respeitadas, é muito fácil um jogador convencer-se de que é determinante, para aguentar o ritmo do jogo e os duelos com contacto, recorrer a treino “extra” seja ele “cardio” ou de força num ginásio. Mas se assim é e eles não querem abdicar disso de maneira nenhuma é importante tentar (pelo menos) orientá-los para que não se chegue ao ponto de se tornar danoso. Fazer "qualquer coisinha" será irrelevante e não irá interferir naquilo que é a forma como a equipa joga ou nas características do corpo e da “ginga” do jogador, que necessita de uma grande fluidez corporal para enganar, mudar de direcção, travar e acelerar, com imprevisibilidade e num contexto também ele cheio de momentos imprevisíveis, onde o cérebro tem que estar implicado e não num "ambiente isolado", com pesos ou sem, onde tudo é artificial e descontextualizado, gerando fadiga sem uma aquisição útil e que pode até ser prejudicial.

A “carga” tem que ter transferência, ou seja tem que ser específica - treinar duelos (contacto) e perceber o timing certo para desequilibrar alguém com mais massa corporal do que eu, implicar a força no momento certo quando ele não está estável, porque não treinar isso? Será que a única forma de resolver esse “problema” é aumentar a minha massa muscular? Temos que começar a olhar para o treino (no campo) como algo que tem “cargas” específicas, onde a força específica está relacionada com o jogo que a equipa joga e é a necessária para que um jogador evite ou não se deixe desequilibrar no choque, para que assim possa dar seguimento à bola ou ser mais efectivo no momento de importunar defensivamente o adversário que tem a bola.

Os jogadores não são máquinas e no futebol também não devem ser olhados como partes isoladas. Eles (jogadores), são eles e as relações que estabelecem com outros dentro do jogo.


a) Carlos Carvalhal em entrevista para a BBC Radio 5, 18/Outubro/2018

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