sexta-feira, 12 de abril de 2019

Cérebro/mente e corpo juntos no processo de desenvolvimento


Mourinho refere-se ao processo de desenvolvimento de um jogador (Anthony Martial), dentro de uma determinada lógica que implica tudo o que o rodeia, e portanto implica aquilo que terá que fazer para estar em sintonia com tudo e todos. Isto necessariamente envolve o corpo todo, algo que não existe sem a inclusão do cérebro.

Um estilo de jogo, uma ideia de jogo se preferirem, parte sempre da forma como o treinador entende o mesmo, parte também daquilo que o treinador vê nos seus jogadores (desde a sua perspectiva) e a forma como harmoniza as características deles com a sua ideia manifesta-se na forma como a equipa joga.

Com o crescimento da "informação" produzida nas redes sociais e jornais à volta do Futebol parece haver uma atracção (cada vez mais) impulsiva na procura dos “culpados do insucesso”, ou melhor dizendo, do culpado, porque isto das culpas convém ficarem numa só pessoa e como é "óbvio" o treinador "está lá para isso" (não concordamos nada com esta abordagem de se “crucificar” um jogador ou o treinador na derrota ou num momento menos bom). Já quando se triunfa inclui-se toda a gente e há sempre espaço para mais um... na “fotografia do sucesso". Mourinho lá esclarece o que lhe parece mais justo – 50/50. Isto não invalida que a grande preocupação seja sempre a melhoria dos seus jogadores e da sua equipa, bem pelo contrário, isso será sempre o mais importante, mas é no trabalho/responsabilização de todos que se gera esse crescimento.

Ora, qualquer processo de desenvolvimento de um jogador está sempre condicionado (não confundir com limitado) pela equipa (treinador e companheiros), e por isso tem que haver um ajuste à mentalidade da equipa, àquilo que o treinador pretende para aquela posição tendo a equipa onde está, bem como às relações com os restantes jogadores, no caso do Martial demorou algum tempo até se ver aquilo que se viu nos últimos jogos de Mourinho no Manchester United. Nesse período, foi um jogador que criava oportunidades, que não perdia a bola com facilidade, um jogador que se notava muito mais ágil (do que antes) com bola, que defendia sem aquele sentimento de estar a fazer um frete (fazia isso por si e pelos outros), que percebia os momentos em que devia passar enquanto o colega tinha vantagem ou quando devia procurar aproveitar a vantagem do 1v1 (na ausência de coberturas por parte do defesa).

Importa referir que também o Mourinho valoriza e muito o cérebro nestes processos de adaptação, mas sem nunca o desligar do corpo fazendo referência a ambos, pois cérebro e corpo são um só e tal como o Mourinho sempre defendeu não se podem separar, e é no processo de simbiose ambos que se gera desenvolvimento e a aprendizagem. Porque o cérebro precisa que o corpo se mexa para pensar e o corpo precisa que o cérebro pense para se mexer. Quando um pensa sem que o outro se mexa e um se mexe sem que o outro pense deixa de haver jogo e deixa de haver fluidez, antecipação, timing correcto, etc.. Aí ou há uma "intensidade" (aquela linear que se refere só ao físico) sem sentido ou há uma intenção que não se concretiza, que fica presa num corpo perro e tolhido.

É na ligação harmoniosa entre mente e corpo que está o crescimento e por isso ambos têm que estar implicados em simultâneo para a criação de uma forma de jogar. É isto o essencial.


a) Conferência de imprensa de José Mourinho ao serviço do Manchester United – Premier League 2018/2019

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