segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guardiola: "O jogador por si só não é nada no Futebol"


Guardiola sobre o jogador e o facto de ele estar inserido numa rede de conexões (uma equipa).

O Futebol é transcendência humana. O Futebol é a valorização do ser humano enquanto ser social.

Entender o jogo terá duas facetas igualmente importantes para que o jogador e a equipa possam fluir: uma será penetrar naquilo que é a individualidade, procurar conhecer-se a si próprio e saber auto-gerir-se, a outra passa por cada jogador perceber como se deve associar com os que o rodeiam – conhecer os outros. Só desta forma sobressai o brilhantismo do pormenor individual, só assim haverá potencial para o surgir do "rasgo de genialidade", sempre como consequência da associação colectiva. Assim deveria ser na sociedade e assim tem que ser no Futebol.

A influência das metodologias/tecnologias aplicadas aos desportos individuais tem assaltado o Futebol desde que se começou a competir e a treinar. A obsessão pela análise (quantitativa) da performance individual, de forma isolada, está presente no dia a dia de quem treina/joga. Apregoamos que a "união faz a força", que "juntos somos mais fortes", que "o todo é mais do que a soma das partes", mas na hora de melhorar o jogador isolamo-lo constantemente, como se a melhoria de cada jogador fosse incompatível com o treino colectivo, no sentido de perceber melhor como estabelecer ligações com os meus companheiros e como resolver os problemas que surgem no jogo de acordo com uma lógica comum.

Nós diríamos que a grande melhoria individual está na melhoria do entendimento daquilo que me rodeia, no timing da relação com os demais, na eleição dos espaços a pisar a cada segundo, na forma como me oriento no campo em função dos outros (meus ou deles), da bola e da baliza, naquilo que consigo alcançar em termos de informação e na capacidade de distinguir as prioridades a cada momento. Estas coisas são de tal forma complexas que a sua aprendizagem acontece muito mais de forma inconsciente na exposição a "jogos complexos" (não nos referimos exclusivamente a “jogo formal”) com frequência, ainda que a reflexão consciente na busca de entendimento do jogo seja também importante. É necessário "reduzir sem empobrecer" (Vítor Frade), para não perda do essencial, e o essencial é aprender a jogar (com noção de tudo o que isso implica).

Este "reduzir" existe no sentido de melhorar relações e detalhes individuais, no sentido de melhorar o todo/a equipa, "sem empobrecer" pois tem que ser em função do contexto de jogo/da equipa em que estamos inseridos (com os meus colegas e a ideia do treinador), treinar sem algo que me ligue a esses referenciais é artificial e fará com que jogue um jogo só meu, desligado do que me rodeia, com lapsos na forma como me movimento, pois serei incapaz de o fazer em função dos outros.

Claro que isto requer tempo até que os outros façam parte daquilo que eu sou no jogo. No fundo trata-se de, sabendo quem somos, perceber o que podemos dar e receber dos que estão connosco.

"Eu, sou eu e a minha circunstância" José Ortega y Gasset


a) entrevista exclusiva a Pep Guardiola (Man.City) publicada no canal do youtube Stadium Astro a 18/05/2018

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